sexta-feira, 1 de novembro de 2013

MOHAMED ALI, ou simplesmente "Mamede".

Mamed, um sírio que adotou Cambuquira como sua terra.
Mohamed Ali, ou Mamede como ficou conhecido, veio para nossa cidade por volta dos fins dos anos 40, a conselho de um médico, depois de tentar outros tratamentos na cidade do Rio de Janeiro. Casado com D. Júlia Gomes Ali, ele, provavelmente nunca tinha ouvido falar de Cambuquira e de suas águas. Mas aqui, além de ter sucesso no tratamento, se apaixonou pela Estância e pelo seu povo, vindo a adotá-la como se fosse a sua terra natal.

A vida desse nosso personagem digno deste registro entre aqueles que fizeram a história de nossa cidade foi cheia de emoções. Ele veio para o Brasil ainda muito jovem, ainda adolescente e com apenas 16 anos. Era órfão desde os 8 anos de idade.
Chegando ao nosso país, ajudado por alguns dos seus patrícios, mesmo sem saber falar o português, tentou entrar no ramo do comércio, atividade que o seu povo tão bem sabe exercer. E, de posse de um caixote de verduras saiu a vender os produtos para o povo. Numa dessas, subiu a uma comunidade carioca chamada “Morro da Saúde” e lá malandros e malfeitores tomaram o dinheiro, os produtos e ainda bateram nele. O pobre coitado voltou e contou aos amigos o que havia acontecido. Novamente os seus compatriotas lhe estenderam a mão. Desta vez, deram-lhe uma máquina de tirar fotos tipo lambe-lambe e ensinaram-lhe a trabalhar com ela. Foi assim que ele se transformou em fotógrafo, profissão que exerceu com esmero por muito tempo e que lhe permitiu constituir família.  Assim, primeiramente trabalhou no Campo de Santana, também na antiga Capital Federal.
Mas, a história não terminou por aí. Ameaçado de extradição, aconselhado por amigos que se casasse para ganhar cidadania brasileira. Foi então que conheceu a jovem Júlia.

Júlia não tinha também uma vida fácil. Ela lhe contou que se sentia muito infeliz onde morava e que era considerada apenas como uma empregada obrigada a fazer todos os serviços da casa .
Mamede então lhe propôs casamento, desta forma conseguiria ficar no país.
Convite aceito, eles se casaram e então o brasileiríssimo Mamede conseguiu ficar em nosso país.
Tempos depois, ficou muito doente do fígado, talvez resultado do costume de lamber a cola do papel fotográfico para descobrir a parte da película que deveria ficar direcionada à lente para capturar a imagem. Aconselhado por um médico, amigos os levaram para Cambuquira onde uma água poderia o curar, a do Marimbeiro. Feito isso, ele veio para nossa cidade e passou a se tratar tomando a água diariamente na fonte.
Curado da doença que lhe atormentava, adotou o costume de ir diariamente ao Parque das Águas onde, além de exercer a sua profissão de fotógrafo, tomava a água miraculosa, lavava os olhos na Fonte Sulfurosa e ainda colhia sua garrafinha empalhada que sempre trazia consigo  para uso enquanto estava em casa ou em outro lugar. Nunca mais voltou para o Rio de Janeiro a não ser para visitar amigos e parentes.
Sua neta Denise Maruf é que nos conta essa história. Ela também cita um casal, Sr. Quinzoca e Dona Jandira como os cambuquirenses que mais o ajudaram na cidade. Jandira Lemes Costa, filha do antigo e histórico fotógrafo Armindo Costa, professora e pianista, Quinzoca, abriram-lhe as portas apresentando-o aos donos de hotéis e turistas que visitavam a cidade naqueles áureos tempos.
A foto abaixo foi tirada em frente de um hotel, provavelmente do Hotel Silva  e não do Hotel Cambuquira como discriminado.

Na foto acima está Mamede com um grupo que nos parece ser da colônia sírio-libanesa carioca que visitava nossa cidade naqueles tempos.

Com a profissão garantida e a simpatia, o imigrante sírio não só se livrou da doença, dos malfeitores, como também ganhou a amizade de todos da cidade, vindo a se tornar um cambuquirense estimado por todos.
Mamede viveu 65 anos em Cambuquira, onde por 40 anos foi o fotógrafo oficial da cidade. Provavelmente, não existe casa em nossa cidade onde não tenha alguma foto feita por ele. Em todos os eventos estava ele com a sua máquina a fotografar casamentos, festividades e mesmo a fazer registro de muitos turistas que vinham à cidade.
                                                        Ele com parte da família.
Certa vez, o visitei com o marido de uma prima também descendente de sírios e ele fez questão de nos emprestar uma fita de sua última visita a sua terra natal. Naquele cassete ouvimos várias músicas cantadas pelos patrícios de sua aldeia lá na Síria. Não entendemos nada, não entendíamos árabe apesar da ascendência do meu companheiro, mas achamos bem interessante.  Pena que este registro histórico tenha se perdido com o tempo, conforme nos informou a sua neta.
Mamed residiu por 65 anos na mesma casa simples que adquiriu na Av. José Bacha, logo atrás do Salão Paroquial e foi dali que ele partiu depois de viver por todo esse tempo e muito feliz em nossa cidade. Todo mundo gostava dele e ele também mostrava que também gostava muito de nossa cidade.

Obrigado Mamede por ter nos escolhido e a nossa cidade!  Obrigado por ter retratado nossa cidade para muitos turistas e por perpetuar os bons tempos de nossa estância, quando ainda nos orgulhar do nome e do turismo que tínhamos.
Concluímos a história com uma das suas últimas fotos, sentado no banco do Parque das Águas onde tanto registrou histórias felizes de turistas e locais, e com ela homenageamos esse personagem bom e que também ajudou nessa nossa história dos mais de 100 anos de Cambuquira.