domingo, 29 de março de 2009

EUZÉBIO FERREIRA.

Clique na foto para ampliar!

Euzébio Ferreira e seu sobrinho Télio (neto).

Quem o conheceu conta que ele era o mestre do humor. Por causa disso, recebeu de Ary Barroso, com quem firmou laços de amizades, um convite para atuar no rádio.
Euzébio, já nos últimos anos da vida, resolveu voltar à sua terra natal depois de ter morado no Rio. Cambuquira sente hoje a falta desses personagens que, sem sombra de dúvidas, a tornavam mais engraçada e feliz. (Foto enviada por sua sobrinha Solange Ribeiro.)

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quinta-feira, 26 de março de 2009

ARMINDO COSTA - Fotógrafo.


Armindo Costa ao se dedicar à fotografia naqueles tempos dos primeiros anos desse lugar como cidade, nem imaginava que ao lado de Thomé Brandão e mais tarde com Manoel Brandão, seriam aqueles que registrariam a história de nossa cidade. Thomé, que fora se tornou prefeito, como mais tarde o seu filho Manoel também fez o registro escrito. Armindo se encarregou de registrar a cidade através das lentes de sua câmera.

Encontrei essa foto no livro "Memórias" do Pe.Antônio Ferreira, um eterno apaixonado por Cambuquira que lá na Bahia escreveu, editou e publicou sua obra dedicada à nossa terra, nela incluindo as pessoas mais importantes da época. Entre elas Armindo Costa.

Ao ver parte do acervo que deixou, podemos dizer que a maior parte dos registros fotográficos da Estância Hidromineral de Cambuquira são de sua autoria. E, é desse homem, cuja história nos passa pouca ou quase nenhuma informação, as principais lembranças dos bons tempos da Estância.

Armindo Costa, era filho de Manoel Rodrigues Costa, o Capitão Neco e homem de prestígio na cidade, e Noêmia da Silva Lemes. Seu pai foi o autor e encarregado do primeiro trabalho de captação das águas que abasteciam a cidade, provavelmente das terras de Cláudio Amâncio da Silva Lemes.

Por se falar em "Silva Lemes", sues pais eram parentes próximos. Pois, a mãe de Armindo se chamava Ana Rita da Silva Lemes ( filha de Antônio Joaquim da Silva Lemes e Feliciana Maria de Jesus) e Noêmia sua esposa, filha de Honório da Silva Lemes e Isabel da Silva Lemes, sendo Isabel irmã de Ana Rita, esposa do Cap.Neco, seu pai. Seguindo ainda a sua árvore genealógica, ambos descendiam de Antônio Joaquim, mentor da construção da primeira igreja da cidade e do seu irmão José Vicente, ambos filhos de Vicente da Silva Leme, irmão das três irmãs solteiras da história de Cambuquira; Ana, Joana e Francisca da Silva Gularte (filhos de José Vicente da Silva Leme e Rosa Maria Gularte ou Goulart, conforme alguns registros.)

Voltando à família Armindo e Noêmia, o casal teve 4 filhos: Costinha que acreditamos ter se chamado Armindo, além de Jandira, Wanda e Irma, as três formadas normalistas e por isso professoras na cidade.

Armindo Costa (ou Armindo Lemes Costa) era mesmo um artista da fotografia. E, mesmo com os escassos recursos técnicos da época, conseguiu elaborar um acerto impressionante,que infelizmente grande parte foi perdida no tempo. Mas, pelo pouco que tempos, arrecadados de terceiros ou copiados de arquivo da Prefeitura Municipal, nos proporcionam uma boa viagem através dos tempos.
Através de suas fotos, ele mostra ter sido um eterno admirador das belezas naturais da cidade que ele tentou focalizar pelos mais variados ângulos.
Na foto ao lado Irma e Jandira em cada lado do grupo.

As filhas do casal formaram-se como normalistas, a principal alternativa para as moças da época, fato esse que as fez fundar na cidade uma das primeiras escolas particulares do lugar(Foto acima)
Depois, quando foi criado a escola pública passaram a prestar os seus predicados para o Estado. Wanda, senhora já um pouco madura, casou-se mas na viagem em "Lua de Mel" acabou por falecer num acidente provocado por uma tromba d'água na Serra das Araras (anos 60) no Estado do Rio de Janeiro. Irma se casou e foi morar no Recife.E, pelo que parece, não deixou descendente, voltando à Cambuquira onde passou a lecionar francês do Colégio Estadual Clóvis Salgado. Jandira casada com "Quinzoca" deixou o filho "Renato", único herdeiro da família, que infelizmente não reside mais em nossa cidade. "Costinha", o filho mais velho, faleceu precocemente, o que contam os mais velhos, abalou muito a família que nunca se conformou com essa tragédia.
Na cidade resta agora a imponente casa vazia da esquina da Marechal Deodoro, subida da Matriz, restaurada e bela como testemunha da passagem dessa gente e de um nome que a história de Cambuquira nunca vai esquecer.

Armindo Costa sempre estará presente, principalmente na vida daqueles que se aventuram nessa viagem no túnel do tempo. Quer experimentar? Olhe na foto abaixo! Duvido que não tenhavontade de penetrar nessa janela, uma foto do nosso coreto quando o velho hotel ainda se chamava Empreza, hoje Trilogia, e nem era tema de filme de assombração, quando as palmeiras imperiais ainda adolescentes ainda miravam o infinito em busca do sol, ornamentando o cenário.


Na revolução, lá estava ele com a sua máquina fotográfica registrando a história para posteridade.
Essa era a Cambuquira que queríamos hoje, com todos os seus predicados, no sentido bom da palavra, imagem da prosperidade, cenário de alegria ou tudo mais. Graças a Armindo Costa ainda temos o privilégio de ver tudo isso nem que se seja pela fotografia e com ela sonhar que nossa cidade ainda consiga sair do poço fundo que foi jogada.
Ao lado foto das tropa da revolução de 30/32 (de autoria de Armindo Costa) quando esta estava em manobra no centro da cidade, preparando-se para enfrentar as tropas paulistas que já se estavam em Campanha, conforme nos informou a historiadora Angélica Andrès, daquela cidade.

A outra foto uma vista parcial do CTC tirada do parque das águas.

quarta-feira, 25 de março de 2009

COMENDADOR INÁCIO GOMES MIDÕES

Talvez seja esse o verdadeiro pai da cidade que hoje conhecemos como "Cambuquira".Conforme Biografia levantada pelos Historiadores Antônio Casadei e Thalita de Oliveira Casadei:

"Inácio Gomes Midões foi físico-mor em Lisboa e aprovado em medicina, veio primeiramente, para São Paulo, a convite de José Bonifácio, onde clinicou por algum tempo, seguindo depois para a Vila da Campanha da Princesa, na primeira década do século XIX, onde se estabeleceu e passou a aguardar sua nomeação de Cirurgião da Câmara, em 1818. Como não saísse a confirmação dessa nomeação, teve Midões, enquanto isso, de aceitar a contratação para exercer o mesmo cargo na Vila de São João del-Rei, cargo que desempenhou de 1819 a 1822. A partir de 08 de novembro de 1822, como sempre foi o seu desejo, Dr. Inácio Gomes Midões fixou-se, definitivamente, até a morte, na Campanha, aqui vivendo com sua família, longos e proveitosos anos, como médico competente e político de grande prestígio."

Na nossa vizinha cidade-mãe, Midões, como passou para história, foi também vereador, conforme cita Manoel Brandão em seu livro "Cambuquira Estância Hidromineral e Climática". E, foi nesse cargo político aliado à sua função na medicina local que se empenhou em defesa das Águas Virtuosas de Lambari e depois, com o descobrimento das nossas fontes, passou a mirar essa nossa dádiva de Deus. Então em 1834, foi de sua iniciativa a construção de uma estrada que ligasse a pequena vila das fontes que se formava à sede do município, na época "Campanha". Desta forma, a frequência que já existia com as notícias das tais águas miraculosas, aumentou. Consequentemente, novas casas e novas pousadas foram erguidas e a velha estrada que chegava ao brejo foi se transformando no que é hoje a Av. Virgílio de Melo Franco (Rua Direita, para os íntimos).Esse não foi o ato oficial de criação ou de reconhecimento do local como uma vila ou coisa semelhante, o que viria bem mais tarde, em 1872 nascia o distrito que depois, em 12 de maio de 1909 se transformou no município com a nomeação, em 4 de junho do mesmo ano, de Raul de Noronha Sá, como seu primeiro prefeito.

Fontes:

1)Biografia transcrita de originais datilografados, inéditos, pesquisados pelo historiador Antônio Casadei e cedidos ao Centro de Estudos Campanhense Monsenhor Lefort, após seu falecimento em Petrópolis, em 07 de fevereiro de 1997, pela sua esposa Thalita Casadei, professora de História e historiadora, residente em Niterói/RJ.
2)Livro Cambuquira Estância Hidromineral e Climática. Autor Manoel Brandão - IBGE-1958 (pag.15 e 81)

DR MANOEL DIAS DOS SANTOS BRANDÃO.

Dr. manoel Brandão foi o verdadeiro modelo do médico de família. Depois dele nunca mais houve em Cambuquira alguém que militasse da mesma forma, sem visar lucros ou riqueza, quanto mais poder ou louros políticos. Fazia isso por amor à profissão, mas muito mais por amor à cidade onde foi criado e por isso considerava-se cambuquirense.
As pessoas mais idosas da cidade que o conheceram dizem que realmente foi um fiel representante dos mandamentos hipocráticos. Durante a maior parte de sua atuação como clínico geral na cidade não fez fortuna como os seus colegas de hoje. Não fazia distinção entre ricos e pobres. E,qualquer que fosse o paciente, lá estava Dr. Manoel à beira do leito. Às vezes virava a noite. Podia ser na cidade, na roça ou no hospital. Por falar em hospital, essa foi a obra de que ele foi mentor e realizador.
No blog da Família Lemes, pode-se conhecer parte dessa sua dedicação:
"Por ocasião da enfermidade de José Lifonso, ele passou a noite inteira ao lado do seu paciente, amanhecendo lá na roça (lobos) longe do conforto do seu lar."
Assim confidenciou uma das filhas desse senhor.

Numa determinada fase de sua vida, talvez pressionado pelas familiares, planejou ir embora. Pois,até aquele momento não tinha nem a sua casa própria e residia numa casa de propriedade do Estado. Tentou comprar um terreno na av. João de Brito Pimenta para construir a sua tão sonhada casa e não conseguiu.
Sabendo do seu projeto de se mudar de Cambuquira, líderes da comunidade se empenharam e conseguiram comprar o terreno desejado presenteando-o ao nosso maior cambuquirense. Depois disso, empenharam-se na construção do prédio de acordo com as necessidades daquele nobre médico. E, foi assim que aquele menino que viera para nossa cidade aos três anos de idade não conseguiu mais deixar a terra que ele adotou e que também o efetivou como filho.
Uma das coisas interessantes dessa história é que apesar de clinicar literalmente de graça, ou às vezes tendo como honorários até "saca de milho", quando competia com o adversário(não inimigo!) André Bacha, Manoel Brandão perdia. A máxima era que Dr. Manoel dava a consulta e André dava o remédio, e com isso ganhava o outro.
Dr. Manoel também se destacou como o maior historiador da cidade. É dele e de seu pai, Thomé Brandão, segundo prefeito da cidade, a obra mais completa sobre nosso município, suas riquezas, as raízes de seu povo e os valores medicinais de nossas águas. Editado pelo IBGE em 1958 "Cambuquira Estância Hidromineral e Climática" se transformou numa "enciclopédia cambuquirense", até hoje referência e fonte de pesquisas até em universidades.


No quadro acima, D.Olga Helena , artista do Rio de Janeiro e frequentadora desta Estância, prestou justa homenagem a esse cidadão merecedor de todos os elogios em seu calendário sobre Cambuquira em 2008. No trabalho também participou a pesquisador e escritora cambuquirense Suely Vilhena com alguns textos que serviram de base para esta nota sobre o nosso inesquecível médico.

Leia mais sobre esse cambuquirense nas informações enviadas por Marília Noronha, sua sobrinha (clique aqui e conheça os planos de Manoel Brandão para Cambuquira).


Hoje assistindo o estágio em que chegou a outrora famosa Estância, com o velho Hotel Elite e outros a servir de cenário de filme de assombração, ficamos pensando como faz falta um Dr. Manoel em nossa terra!...
PARA VER MAIS PERSONAGENS E FOTOS, Clique abaixo em "Postagens mais antigas".

NECO DA JARDINEIRA.


Manoel Almeida Santos, o Neco da Jardineira. Manoel Almeida Santos, filho de Antônio Almeida (Santos) e Maria Gertrudes dos Reis (a Mariquinha) foi casado com Maria Aparecida [Almeida] filha de Antônio da Silva Passos e Amélia (ou Amália) da Silva Lemes. Com sua esposa, teve 4 filhos: Aldair Almeida, Maria Amélia Almeida, Manoel Almeida Filho e Antônio José Almeida Santos. Fora do casamento, teve 3 filhos noticiados, e outros tantos que "o povo diz" mas ninguém sabe quem são...Foi alfaiate (junto com seu irmão Antônio "Japão" Almeida) e padeiro quando jovem,, e depois de casado, comprou um caminhão.

Continue lendo mais essa história de um dos 100 que fizeram os 100 anos de Cambuquira. (clique aqui!)

quinta-feira, 19 de março de 2009

CHARLES BERTHAUD, o cientista das águas.

Outro personagem que contribuiu muito por Cambuquira, além da análise das águas para o qual foi contratado pelo governo, foi Charles Berthaud.Apaixonado pela pequena vila, o francês a adotou como sua terra e por aqui resolveu construir sua casa, demonstração de sua disposição de ficar, como aliás ficou até a sua morte.

Conforme conta a história, o médico e cientista passou também a atender parte do grande contingente que vinham às fontes à procura de curas para os seus males.
Em seu laboratório desenvolvia porções fitoterápicas tendo as águas medicinais como base para os seus medicamentos. Assim, a fama do médico e as qualidades medicinais das águas percorreu distâncias atraindo cada vez mais pessoas.
Talvez, preocupado com a localização do cemitério no alto da colina próximo ao parque das águas, o que poderia contaminar os lençóis freáticos, comprou com recursos próprios um grande terreno e o doou para montagem de novo campo santo.

Do passado conseguimos trazer até o presente aquele sobrado imponente no alto da Fazenda do Retiro, de onde se podia ver os dois lados daquela colina, assistir o nascente e o por do sol, paisagens nunca vista igual na sua França natal.
Dr. Charles Berthaud quando escolheu aquele lugar para construir sua casa, levou tudo isso em consideração.


Para edificar a casa, mandou vir da França quase tudo ou o que podia. Tudo ali era de primeira, desde as telhas, as janelas, as escadas, o assoalho de pinho-de-riga que ninguém conhecia por essas paragens. Todo o conforto ali teria. A água pura e cristalina bombeada de um poço profundo( que ainda existe no terreno dos Siebert)servia a cozinha, banheiro e o laboratório. Para não poluir os lençóis d'água todo o esgoto da residência era tratado em fossas cépticas distintas para cada setor(residência e laboratório). Um jardim de rosas e trepadeiras ornamentavam o lugar, uma das quais cor de rosa sobreviveu aos tempos e foi arrancada nos anos 60 para construção de uma casa no bairro, além das essências aromáticas, medicinais, frutas e outras plantas aclimatadas completavam o pomar da chácara onde hoje é parte do Bairro Carioca.

Depois de um estafante dia, quando atendia várias pessoas que apareciam na cidade em busca da cura pelas águas minerais em conjunto com as poções químicas que fazia, o médico se sentava na varanda e contemplava o sol ardente e vermelho a se por pelos lados da cidade de Campanha. Nas noites de céu aberto lá estava ele na varanda a observar as estrelas, os planetas e a lua que vagava pelo infinito, maravilha que mais tarde encantou outro estrangeiro, Sigmund Szabó, que ali perto iria nos anos 60 tentar construir o primeiro observatório astronômico da região.

No dia seguinte acordado pelo cantar dos galos, abria a janela e via o sol nascendo entre as árvores da colina da Mata do Parque provocando o soprar de uma brisa serena com cheiro de mato, mostrando que o lugar receber as melhores dádiva de Deus.

Charles talvez pensasse que aquele lugar seria uma grande e bela cidade, pois isso era o que se previa para aquela a vila em formação desde os fins do Século XIX e começo do Século XX.

Não se sabe porque, existia ali perto no que hoje é a esquina da rua que leva o nome do médico cientista com a Av. Princesa Isabel, no Bairro Carioca, um pequeno cemitério descoberto por volta dos anos 60 por ocasião da construção de uma casa, e nunca mencionado na história da cidade. Provavelmente, ali eram enterrados alguns dos desafortunados pacientes que não conseguiam a procurada cura ou se tornou a alternativa que ele arranjou para não usar mais o cemitério que ficava atrás da Igrejinha dos Lemes.

Ainda com relação a esse cemitério desconhecido, o que talvez seja uma prova de não ter sido um lugar qualquer, existia uma “trepadeira de flores cor de rosa” que eu, o narrador dessa história, quando menino tentou por diversas vezes arrancar para levar de presente para mamãe!.. Ainda bem que não usei nenhuma ferramenta que pudesse atingir o esqueleto ali soterrado!...
Montagem (acima) e descrição ainda desconhecidas. Sabe que fez?

Charles Berthaud, antes de vir para Cambuquira, trabalhou na sua terra fazenda a captação das fontes de Aix-Les-Bains, em Saboia, fato que fez com que o Governo, através de uma empresa a Companhia União Industrial dos Estados do Brasil, o procurasse para essa nova empreitada.
Aceitando essa nova empreitada, nem imaginava que seria uma viagem sem volta e que da pequena vila nunca mais sairia. Pelo menos isso não aconteceu pela sua vontade. Pois, os seus restos mortais foram levados por seus filhos para a terra em que nasceu.

Berthaud, conforme contam Thomé e Manoel Brandão, ficou encarregado de fazer as análise das fontes e procedeu a captação das quatro principais: Regina Werneck(mais tarde chamada também de Fonte Maria) ou Gasosa, Fonte Fernandes Pinheiro ou Ferruginosa, Fonte Comendador Augusto Ferreira ou Magnesiana e a mais famosa na época conhecida como Bica de Prata ou Roxo Rodrigues (hoje "Barracão" que ficou prejudicada com uma má perfuração que fez com perdesse um pouco do gás natural).

quarta-feira, 18 de março de 2009

OS IRMÃOS LEMES



"__Mas onde estão esses irmãos Lemes? Estariam lá dentro rezando?"


Perguntará um irônico observador desta foto. Não o culpo pela ignorância sobre a história. Afinal, poucos são os cambuquirenses de hoje que conhecem a verdadeira história dessa igreja(Se é que sabiam da sua existência!) e tão pouco ouviram falar desses irmãos. Culpa também da ignorância daqueles que decidiram o que deveria ou não repassar para novas gerações."

Os Irmãos Lemes foram Antônio Joaquim da Silva Lemes, Tomé da Silva Lemes, José Vicente da Silva Lemes e João Evangelista. Destes, na história escrita por Manoel Brandão com base nas pesquisas de José Guimarães neto de dois dos citados cidadãos, há o destaque da liderança de Antônio Joaquim, um dos cidadãos descendente dos primeiros proprietários deste chão, José da Silva Leme e Rosa Maria Goulart (Gularte).



Antônio Joaquim, desejando que o lugar tomasse corpo de cidade transferiu-se com a família para nova vila que se formava e tomava forma à partir da estrada com ares de rua que hoje é a Avenida Virgílio de Melo Franco, ou Rua Direita como é popularmente conhecida.



Nesta rua construiu o primeiro sobrado do lugar, com cômodo comercial no primeiro andar, conforme de pode ver numa das primeiras fotos deste lugar. Essa sua casa ficava no que é hoje a esquina dessa rua com a João Silva, mais precisamente onde hoje se localiza a agência da Caixa Econômica Federal.



Feito isso, tratou de edificar com a ajuda dos irmãos e também com o auxílio de outros habitantes , o primeiro templo religioso do lugar, como de costume no alto da colina onde se formava a vila.

Participaram dessa obra, ofertando recursos próprios e até trabalhando na obra, além de seus acima citados os senhores: Casimiro José da Costa* e os irmãos Manoel e José Martins Ribeiro*, parentes do líder dessa empreitada.



Nessa capela, primeiro mensalmente e depois mais regularmente, conforme consta no livro "Cambuquira, Estância Hidromineral e Climática",*as missas e outras cerimônias religiosas eram ministradas por um sacerdote vindo de Campanha, sede do município naqueles tempos. O resto do tempo era usado pelos próprios habitantes para seus terços, além das festividades dedicadas ao padroeiro já escolhido naquela época, S.Sebastião.



Depois da construção da Igreja, mais tarde construiu-se atrás desta um cemitério que foi desativado com a criação do atual em terreno doado por Charles Berthaud (aliás o primeiro a ser sepultado nesse lugar). Acredita-se que essa também tenha sido uma obra desse grupo de "cambuquirenses".



Mas,a história foi ingrata com esses cidadãos. E, a não ser o que foi citado na referida obra, nada mais se falou dessas pioneiros. Nem nas nossa primeiras informações das origens do município eles são citados. Restringindo-se a história oficial à história das três irmãs solteironas: Ana, Joana e Francisca da Silva Goulart, últimas proprietárias de parte do que hoje é a zona urbana central da cidade, e dos três escravos que teriam recebido uma porção de terras onde hoje se localiza o Parque das Águas. (A sede da fazenda ficava onde hoje é o Hotel São Francisco.)



Essas senhoras eram tias dos Irmãos Lemes, filhos de Vicente da Silva Leme (ainda sem o "S"), primogênito da família que como de costume recebia o sobrenome do pai, restando às filhas mulheres herdar o apelido da mãe ou um misto entre parte da denominação da família do pai e da mãe, como aconteceu com essas nossas "tias-avós". Inclusive isso induziu a um erro histórico da tal citação oficial quando se diz que a antiga Fazenda Boa Vista pertencia à "Família Silva Goulart", o que na realidade deveria constar "Família Silva Leme".


Não se fala em descendência dessas senhoras já que presumidamente faleceram solteiras como nos informa José Guimarães na sua obra As "Três Ilhoas", dados também aproveitados pelos autores do livro de Cambuquira: Dr.Thomé e seu filho Dr.Manoel Brandão, ex-prefeito e médico famoso na cidade.



As "Irmãs Goulart" receberam homenagens através da denominação de ruas no Parque S.João, enquanto Vicente e fihos que tanto lutaram para que aquele arraial se tornasse uma vila, para depois virar cidade, ficaram esquecidos.


Estes homens são membros do rol daqueles que fizeram "Cambuquira", cuja história resgatamos aqui para que se faça justiça depois de tantos anos.


A foto abaixo é de 1889 e dos primeiros tempos da Vila

Clique para ampliar e ver os detalhes, inclusive a provável casa de Joaquim Antônio

* Fonte: Cambuquira Estância Hidromineral e Climática - Drs. Thomé E Manoel Brandão - Ed.IBGE - 1958.



domingo, 15 de março de 2009

O RESGATE DA HISTÓRIA NOS 100 DOS 100 ANOS.

A cidade deve muito a muitas pessoas que passaram por ela e deixaram alguma contribuição.
Vamos resgatar esses valores humanos para que a história lhes dê o devido valor. Pois, uma comunidade existe como povo quando tem referências históricas para passar às novas gerações.

Participe! Conte alguma história que você sabe. E, se tiver uma foto, mande para este blog. Ajudem

Dia 12 de maio de 2009 completamos nosso primeiro centenário.

sábado, 14 de março de 2009

ESTÊVÃO HORÁCIO DO PRADO.

QUEM FEZ A NOSSA HISTÓRIA?

A história de uma comunidade é feita por todos nós e não pode ser encarada como obra somente dos políticos ou dos vultos que já destacaram nos livros que lemos. Os heróis são múltiplos. E, no rol deles cabem todos, inclusive aqueles que a história escrita esqueceu de registrar.Na minha opinião, até o mais simples operário de uma obra, aquele profissional de destaque, além dos doutores devem fazer parte desse registro de resgate.Como exemplo, cito o meu avô materno que nem conheci. Ele fora um operário da primeira Prefeitura de Cambuquira.

Este personagem histórico não consta em nenhum livro e nem é nome de nenhum logradouro público. Não que ele deixasse de fazer jus a uma homenagem dessa natureza, mas muito mais pelo fato de que num passado bem próximo ainda era incomum dar esse tipo de honraria às pessoas mais simples.

Estevão Horácio do Prado, avô do administrador deste blog e de um grande número de outros cambuquirenses e descendentes, foi o patriarca de uma parte da Família Prado em nossa cidade. Líder nato conforme ouvi dizer, destacou-se desde já, sem ser portador de algum título de formação, tornou-se o ponto de referência entre aqueles que trabalhavam com ele. Notado pela administração, inclusive talvez por ser um dos poucos alfabetizados do grupo, ficaria incumbido mais tarde de comandar um grupo de operários nas obras do então município em formação.

Casado com Maria do Carmo Rezende do Prado, conhecida na comunidade como "Dona Mariinha", Estêvão faleceu cedo deixando viúva e seus oito filhos, que foram criados graças ao empenho do filho mais velho, Sebastião Evangelista do Prado que se empregou na Prefeitura Muncipal como auxiliar do departamento de contabilidade, ficando ele também responsável pela continuidade da criação de seus sete irmãos: Estevão de Paula, Vicente Beltrão, Judith Henriques, João Benedito, Maria Madalena, Ana Gertrudes e Manoel Amâncio.

Estêvão era filho de família de abastado fazendeiro da região, da tradicional Família Prado, mas, foi fruto do amor de dois adolescentes. Foi registrado pelo avô,mas não recebeu do pai nenhuma atenção e amor. Fato esse que o marcou profundamente por ser ele um pai zeloso e carinhoso com os filhos, como conta minha mãe. Talvez ele não aceitava e não compreendia esse desprezo de um pai para com o filho. Isso justifica o seu procedimento por ocasião da morte do seu pai, quando recebera uma intimação levada por seus meio-irmãos residentes em Campanha, para comparecer à leitura do formal de partilha quando receberia o quinhão de 270 alqueires de terra, herança do seu pai, o que resolveria com certeza a situação da família.Mas, ele disse que não iria receber a herança de um pai que nunca o reconheceu como tal, que nenhum vínculo formou com ele, apesar do avô ter tido a ombridade de registrá-lo como membro da família. Por outro lado, disse ele que não iria tirar dos outros irmãos a vida com que estavam acostumados pois estes já exploravam o quinhão do irmão mais velho ausente e desconhecido destes.

Os meio-irmãos por parte de mãe decepcionados voltaram com o documento oficial nas mãos para entrega no fórum sem a manifestação do que seria o irmão rico que se tornaria meu avô.
Contava o meu tio mais velho, já falecido que meu avô era adepto da "Ordem Terceira de São Francisco", cujo princípio é o desprendimento de todos os bens materiais, o que tamém reforça a sua atitude com relação à herança do pai.

A família, a não ser o seu primogênito,também nunca concordou com isso, já que com a sua morte prematura,D.Mariinha ficou em situação financeira muito ruim pois naquele tempo não existia aposentadoria ou pensão, direito esse que ela só conseguiu já idosa, com o atendimento a pedido da família junto à Prefeitura Municipal.

Sua história com Cambuquira.

O casal ao chegar à Vila de São Sebastião de Cambuquira, com dois dos seus filhos mais velhos, não encontrou moradia na cidade que começava a se formar. Existia já alguns hotéis e pousadas. Mas, tudo aquilo era muito caro para alguém acostumado na "lida do campo" como se dizia antigamente. Assim, junto com Mariinha e filhos rumou para zona rural e, com a autorização de um proprietário de fazendas, foi morar provisoriamente numa gruta na beira do Rio Lambari, ali permanecendo até que pudesse construir uma casinha cuja propriedade ainda hoje pertence a um membro da família, o seu filho mais novo.
O "Seu Estevão" como ficou conhecido, era um homem alto, acima da média dos homens daquele tempo, que estimo ser mais ou menos de quase 1,90 m. Talvez, o seu tamanho e a sua inteligência e o espírito de comando o tenha facilitado as coisas e logo estaria trabalhando nas obras da cidade. Trabalhou na captação e montagem do abastecimento de água de Cambuquira à partir da Serra do Piripau, na construção do Aeroporto( hoje pertencente a Três Corações), na construção de ruas e praças entre outras obras.E, foi numa dessas obras, quando colocava os canos da rede de água no centro da cidade que quase morreu.Neste evento, um barranco desmoronou sobre ele, ficou soterrado vivo por alguns minutos. Os colegas de serviço o socorreram a tempo, mas aquilo com certeza lhe deixou sequelas e ele nunca mais teve a mesma saúde. Talvez seja isso o motivo de sua morte prematura.

Aqueles que o conheceram diziam que ele é dotado de muita inteligência, conhecimentos diversos, inclusive das plantas medicinais, predicado passado por um conhecido da família caboclo como ele ,criado no campo onde a farmácia era o pasto e bosque mais próximo e as ervas plantadas na horta. Por causa disso, ele era muito procurado pela população que o tinham como o "Curandeiro Seu Estêvão", termo que ele não gostava muito pois era católico fervoroso.

Tocador de viola, o que talvez justifica o dom de um neto que faz sucesso hoje com o mesmo instrumento, Tarcísio da Viola, atraia grupos para frente de sua casa onde a cantoria ia até tarde, quando também se "dançava" o cateretê e os grupos de "desafios", além dos eventos após terço que ele e sua esposa costumava realizar na residência na subida da Lavra.

Religioso, ao lado de sua esposa sempre realizava terços, participava dos leilões em prol das obras da igreja entre outras festividades religiosas, sempre com destaque não só na comunidade do Bairro da Lavra onde morava como também em outras partes da cidade. Contam que há poucos dias de sua morte, Estêvão já presentindo o fim despediu-se dos amigos, dos filhos e da adorada esposa que ele amava tanto.

Para ela, ele era um misto de marido e pai, pois o casamento aconteceu quando ela tinha pouco mais de 13 anos, uma criança que ia brincar de boneca enquanto o marido ia para lavoura.

D. Mariinha do Prado, anos mais tarde foi acometida de um mal que os médicos da época acharam ser um efeito colateral de um medicamento que ela tomou, o Elixir 1914. E, por anos ela sofreu daquele mal inexplicável que lhe deixou marcas na testa, nas pernas e outras partes do corpo. Graças a sua força e sua fé isso não a impediu de lutar e já recuperada, como se vê na foto ao lado, ainda ajudou criar uma penca de neto que estavam sempre com ela no dia-a-dia, ajudando-a montar o presépio de natal ou na hora daquele bolo de fubá feito na panela de ferro com brasas na tampa ao estilo antigo das fazendas dos seus pais num lugar chamao Xicão.
Na foto,vemos D. Maria do Carmo Rezende do Prado com o seu neto Gilberto Lemes, administrador deste blog com os seus 8 anos mais ou menos com as mãos nos bolsos e à direita o filho Manoel Amâncio do Prado tendo à sua frente os netos: Francisco Cesar, Nelson Nicolau, Antônio Fernando e Luiz Eduardo que não se intimidou com a máquina fotográfica e no exato momento fazia "xixi" ali mesmo (para que segurar? né?).
Bem, esta é uma história real cheia de garra e exemplo digna de ocupar esse espaço.

Abaixo:Cícero, Suely e Nenê Cassimiro dentro de uma das grutas históricas da cidade, onde provavelmente se instalou os primeiros membros da Família Prado no município.
Esta foto nos foi enviada graciosamente pela Professora Suely Vilhena, pesquisadora e historiadora de Cambuquira, que tempos atrás fazia uma pesquisa sobre a história de nossa cidade.

Cícero, filho de Manuel Amâncio do Prado, o mais novo dos filhos de Estêvão e Mariinha, a acompanhava nessa sua primeira visita à gruta histórica da cidade.

Infelizmente, conforme nos informaram essa formação natural de pedra já não existe mais. Talvez em consequência do desmatamento e da mudança climática veio abaixo numa noite quando um grupo de rapazes pernoitava no seu interior e que tiveram tempo apenas de sair correndo quando um "estalo" os avisou que tudo viria abaixo.

Um fenômeno d'outro mundo ou como se diz hoje, um "ufo", nos primeiros anos da Estância.

Estêvão e outros servidores que trabalhavam na montagem da canalização da água que vem do Piripau foram testemunhos de um acontecimento além da nossa imaginação. E, este fato foi contado por ele e pelos demais na cidade, que minha avó e meu tios passaram às gerações mais novas.

"La iam os operários comandados por Estêvão Horácio do Prado rumo à serra ainda de madrugada. Tinham que ir cedo para que a obra não atrasasse, como queria o prefeito da época, pois o turismo crescente exigia cada vez mais água nos hotéis e nas casas para atender tanta gente. Em fila caminhavam por um trilho no campo numa conversa animada quando uma luz apareceu e começou a seguir o grupo, ora mais baixo ora sobre as árvores. A princípio pensaram que fosse uma estrela, mas o foco foi aumentando e se aproximando do grupo que já amedrontados seguiam rumo ao local de trabalho. No entanto, aquilo já mais próximo continuou os seguindo de acordo com a velocidade dos seus passos.

Já havia algum tempo, quando um dos companheiros irritado com aquilo ou com medo, talvez por uma atitude de defesa, começou a gritar algumas palavras de baixo calão dirigindo-se ao estranho objeto brilhante. Contavam que aquilo de repente se investiu contra eles. E, como se atravessasse cada um passou pela fila desde o primeiro até o último e voltava em ziguezague entre as suas pernas. Repetiu isso por diversas vezes e depois como um foguete sumiu na escuridão.

Naquele dia, não houve trabalho, todos, inclusive meu avô, ficaram adoentados. Uns com dor de barriga outros com dores nas pernas. E, sem forças para enxada ou machado tiveram que voltar à cidade.

Minha avó e meus tios diziam que aquilo era uma assombração. Hoje alguns diriam que fora uma manifestação de algum extra-terrestre.

Só sei que isso foi um fato verídico que ficou sem as devidas explicações até hoje.

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Nota: Isso não está aqui só porque este é o blog de um dos descendentes desses pioneiros da cidade. E, foi postada para que as gerações mais novas tomem consciência de que a história de uma cidade ou de uma país se faz com o seu povo. E, ao contrário do que se colocou nos livros, os políticos, raras exceções, são meros coadjuvantes nesse processo histórico, às vezes até desempenhando muito mal os papéis que deveriam exercer com empenho.
Além dessa história, tantas outras deve existir por aí e que se perderão no tempo se ninguém ousar contá-las como eu. Sendo assim, se você tem conhecimento de fatos dessa natureza que conte neste blog para conhecimento de todos. Use o link "contato" da página para falar conosco.
Cateretê:
É uma das danças mais genuinamente brasileira. É de origem indígena, tal qual o seu próprio nome, tirado da língua Tupi. É uma espécie de sapateado brasileiro executado com "bate-pé" ao som de palmas e violas. Tanto é exercitado somente por homens, como também por um conjunto de mulheres. O Cateretê é conhecido e praticado, largamente, no interior do Brasil, especialmente nos Estados de Minas Gerais, São Paulo, Goiás e, também, em menor escala, no Nordeste. Em Goiás é denominado "Catira".


PADRE JOEL PINHEIRO BORGES.


Este foi, sem sombra de dúvidas, um dos maiores benfeitores de Cambuquira. Nomeado para ser pároco da Estância Hidromineral, talvez nem imaginava que se apaixonaria pela cidade e teria que permanecer ali para sempre.

Naqueles tempos difíceis dos anos 60, conseguiu do governo americano a doação de alimentos, entre eles o leite em pó que distribuiu para população carente local, alimento essencial principalmente para crianças de famílias que não tinham acesso à fartura de hoje. Pois, emprego era difícil, aliás tudo era mais mais distante da classe pobre.

Padre Joel sonhou alto para nossa cidade, e considerando que o ginásio, originário de empenho de outro pároco, o Padre José Inácio de Melo em 1956 com um grupo de cambuquirenses que se denominaram União Cívica e Cultural da Mocidade Cambuquirense (matéria postada num dos blogs) já era pouco para evolução dos tempos, empenhou-se na montagem de um curso de segundo grau na cidade. Assim nasceu a Fundação Santa Filomena e através dela o Colégio Professor Hilton Rocha. Nesse colégio, os estudantes saídos do ginásio e que não tinham condições financeiras de procurar outra cidade para continuar os estudos, tinham ali a oportunidade de uma nova chance, o Curso de Técnicas Comerciais.
O nome Hilton Rocha foi dado a instituição de ensino em homenagem a um famoso médico oftalmologista nascido em Cambuquira, como reconhecimento ao ilustre filho da terra que poucos conheciam.
Naquela escola ele fazia a questão de destacar os melhores alunos. Assim, o primeiro lugar tinha que ostentar durante os 30 (trinta) dias seguintes um broche de ouro, repassando para outro seguinte se perdesse essa classificação no mês subsequente. E, assim por diante. Era uma maneira de incentivar os alunos.
Durante o longo período que esteve como pároco da cidade, isto é até ao seu falecimento, Padre Joel não ficou restrito às questões religiosas. Ele, além de representante religioso, foi também um formador de opinião e um cidadão preocupado com os rumos que a cidade tomava. Ferrenho defensor da moral, da ética e dos bons costumes talvez não tenha sido entendido por muitos que hoje lamentam a sua falta na cidade. Era respeitado pelos membros de outras correntes cristãs como um homem de opinião.
A comunidade considerou o seu amor pela cidade e cumpriu o seu último desejo de ficar para sempre na cidade. Nascido em Formiga-mg, faleceu em Cambuquira onde jaz no interior da Igreja Matriz da cidade.



NOTA : Na foto acima, o registro do canto de Verônica na cerimônia da Sexta-Feira da Paixão que Padre Joel conseguiu transformar numa das mais tradicionais manifestações religiosas da cidade pela ordem e beleza , com grande participação da comunidade que enfeitava as ruas com tapetes de flores e serragem.

quinta-feira, 12 de março de 2009

CAP. CLÁUDIO AMÂNCIO DA SILVA LEMES



Cláudio Amâncio da Silva Lemes, que passou para história como Capitão Cláudio, como era de costume naqueles tempos usar uma patente militar como título para se destacar dos demais, foi um benfeitor quase que anônimo de nossa cidade. Proprietário da Fazenda dos Lobos que, com certeza herdou de seu pai Antônio Joaquim da Silva Lemes, próspero fazendeiro residente na cidade e proprietário do primeiro sobrado edificado na esquina onde hoje se localiza a agência da Caixa Econômica Federal, quase foi à falência ( e a história pouco conta disso) quando cedeu as águas de sua propriedade para a então cidade que se formava. Por causa disso, o engenho de rapadura, uma das principais atividades da fazenda, quase que parou, pois esquecera ele de colocar uma cláusula no contrato de cessão da água que limitasse o tempo de vasão para que as
máquinas pudessem trabalhar.

O capitão Cláudio pertenceu à primeira Casa Legislativa da cidade (foto ao lado), um órgão precursor da Câmara Municipal, como homem de poder e influência que tinha na comunidade. Ele era um homem letrado, embora não tivesse algum título de doutor. Alfabetizado na cidade de Campanha, centro administrativo da vila, falava e escrevia bem em francês.
Quis o destino que sua esposa, por algum problema físico não se engravidasse. E, talvez por isso, ou por outra razão que desconhecemos, Cláudio viera a ter um relacionamento com uma jovem campanhense, Justina de Azevedo, com a qual tivera uma única filha, que aliás tentava esconder de todos apesar de todas as evidências físicas e no carinho que tinha pela menina.
Ele a matriculou no Colégio Sion da Campanha onde o internato era privilégio das filhas dos ricos senhores de terras desta e de outras regiões do Estado e talvez do país. E, lá ele era conhecido pela irmãs como o "padrinho benfeitor" que zelava pela afilhada.
O tempo passou e a menina que recebeu o nome de Efigênia já contava com seus 15 anos, quando o velho capitão sentiu o peso da idade e a debilidade da saúde. Temendo deixá-la desamparada, elaborou um testamento nomeando um dos seus irmãos como tutor deixando o que a lei permitia para a bela jovem.
Dizem que no dia da leitura desse documento logo após a sua morte, sem esperarem aquela decisão quase secreta que poucos sabiam, foi um "Deus nos acudam" no fórum local. As senhoras da família, sobrinhas, afilhados entre outros, vestidos a caráter quase faleceram ao tomar conhecimento das "últimas vontades do Sr. Cláudio". Algumas das senhoras presentes no local não aguentaram e desmaiaram ao ver que o quinhão esperado ia para aquela menina quase desconhecida da família.
Efigênia, que não levava o sobrenome do pai, acabou por receber o nome "Lemes" ao se casar com um membro da família e parente do capitão que apesar de também não carregar esse "apelido de família" era filho de um "Silva Lemes". Assim, realizou-se um desejo oculto do velho Cláudio e a jovem senhora passou a se chamar Efigênia de Azevedo Lemes.
O Cap.Cláudio, através de sua filha, deixou grande descendência na cidade, os "Silva Lemes" da Fazenda do Lobo". Os netos, já naqueles tempos, já preocupavam o velho capitão que em testamento os legou as terras de sua fazenda. Com essa disposição de última vontade, o pai de Efigênia também garantia que a propriedade não fosse alienada, garantindo à filha como aconteceu o sustento por toda vida.
São netos do Capitão Cláudio: Claudinho* que levou o mesmo nome do avô, Daniel*, Fabiano, Ernani, Geninha*,Gracia*, Cidinha, Edwiges, Marfisa*, Irene e Darci.
(*) filhos já falecidos

JOÃO BONIFÁCIO BARBOSA MARTINS, "o retratista a creiom".













JOÃO BONIFÁCIO BARBOSA MARTINS, "o retratista a creiom".

Este é o auto-retrato desenhado por João Bonifácio Barbosa Martins, que conforme publicado no livro "Memórias" do Pe. Antonio Ferreira, onde há há uma foto dele ao lado do Padre Salvador Morelli com o seguinte texto:

"João Bonifácio Barbosa Martins. Por espaço de trinta anos desempenhou o ofício de Sacristão. A natureza dotou-o de bastante engenho. As pinturas que decoram as paredes de muitas igrejas do sul de Minas, ainda hoje lembram o seu nome. Quase não há uma só casa em Cambuquira onde não se veja um retrato a crayon, desenhado pelo velho Bonifácio."

Solange Ribeiro, sua bisneta, nos informou que pesquisando há alguns anos na biblioteca de Cambuquira, no livro do Dr. Thomé, encontrou a seguinte descrição em nota sobre o antigo Hotel Globo:

" No primitivo prédio funcionava o Hotel Lourenço da Veiga, até aproximadamente 1896, quando nele se instalou uma escola, cujo mestre era João Bonifácio Barbosa Martins, o velho sacristão da Igreja, auxiliado por D. Maria Francisca do Nascimento, sua esposa, mais tarde professora pública e posteriormente do Grupo Escolar, cargo no qual foi aposentada."

Também na biblioteca de Lambari,essa dedicada pesquisadora das obras de seu bisavô encontrou um Dicionário Brasileiro de Artistas Plásticos- Instituto Nacional do livro - MEC Valmir Ayala- 1977 Volume 3 M-P onde aparece a seguinte descrição:


"Martins, João Bonifácio Barbosa - ( Três Pontas, MG-1840-?,1918), pintor,cenógrafo e músico, ativo em Minas Gerais. Pintou os quadros da Paixão, no antigo Hotel Sul-Mineiro,por encomenda de um senhor de São Thomé das Letras, em 1881; trabalhou nos cenários da peça A Cabana do Pai Tomás, em Campanha, Minas Gerais (1882), época em que também desenhou o retrato do Viscondedo Rio Branco, quando vivia na rua do Hospício, em Campanha. Pintou o teto da Igreja das Dores, em Campanha, que não mais existe. Por volta de 1883, seu nome era muito conhecido em Cambuquira, onde o chamavam "O retratista a creiom", pelo número de retratos de veranistas que desenhava. "

No dia 4 de maio de 1904, foi-lhe feita uma homenagem. De sua obras existem dois retratos em Cambuquira e um trabalho seu pertence ao sr. Paulino Lemos de Sousa Cardoso, seu bisneto, residente no Rio de Janeiro."

João Bonifácio morreu aos 79 anos, por isso a data correta do seu nascimento é 1839.




Descendência: (dados genealógicos fornecidos por Nair Martins Branco*, sua neta)

1. João Bonifácio Barbosa Martins e Maria Francisca do Nascimento, tiveram os seguintes filhos e seus respectivos esposos , dos quais geram muitos netos, bisnetos e até trinetos:
Télio

Télio Barbosa Martins e Ana Cândida Ferreira Martins;

Luiza Amália Lemes e Benjamin Lemes; Amália

Maria da Conceição Martins de Souza e Joaquim Luciano de Souza;

Maria de Lourdes Martins Montenegro e José Montenegro;

Judith Martins Branco e Manoel Fernandes Branco (pais de Nair *,informante da genealogia);

Geraldo Barbosa Martins e Iolanda Martins.


* "Nair Martins Branco, informante desses dados genealógicos, filha de Judith e Manoel, foi criada pela tia Maria Amália c/c Benjamim Lemes- Nair foi casada com Roberto Pessoa Lopes, com quem teve os filhos: Andre Luís, Cristiano e Rodrigo."

Essas "fotos" são na realidade duas obras a crayon feitas por João Bonifácio, sob encomenda:
à esquerda, uma donzela onde pude identificar a descrição "S.Lemes", o que me leva a crer que é uma personagem do clã de Cambuquira e Campanha.
à direita, é o senhor Astolpho Resende, rico fazendeiro de Carmo da Cachoeira e figura importante da cidade de Varginha-mg.
Acima está o seu autorretrato, apesar do mau estado de conservação, dá para ver a semelhança física com um dos seus bisnetos cambuquirenses, Benjamim Gardona, que herdou do seu bisavô os mesmos dotes.